Ao Bispo Manuel Vieira Pinto,
na sequência da retirada do Bispo Manuel Ferreira Cabral (Janeiro de 1971), pediu o
Vaticano que, como Administrador Apostólico, gerisse a melindrosa situação
daquela diocese donde, entretanto, o governo tinha expulsado os Padres Brancos
(Maio de 1971).
O Conselho dos Presbíteros da Diocese da Beira, depois da
sua reunião de 13 de Agosto, realizada sob a presidência do seu Prelado, saúda
fraternalmente todos os missionários que nas 33 missões e paróquias espalhadas
pelos vastos e populosos distritos da Beira e de Vila Pery, congregam os homens
de todas as cores e culturas, na comunhão com Deus e entre si.
Saúda os missionários que
neste momento se encontram fora da Diocese por motivo de estudos, de férias ou,
infelizmente, por motivos alheios à sua vontade, e os religiosos, religiosas,
catequistas e professores que nas diversas tarefas da promoção social e
evangelização, revelam aos homens a autêntica verdade da sua condição, dos seus
direitos inalienáveis e da sua inteira vocação, já que o Senhor é princípio e
modelo da humanidade renovada, cheia de amor fraterno e de espírito de paz. (AG
8).
Saúda todos os leigos que, nas
muitas e difíceis tarefas da ordem temporal, lutam sinceramente pelo
desenvolvimento do homem e de todos os homens, particularmente dos mais
débeis; lutam por uma sociedade onde todos sintam que são homens de pleno
direito, fundamentalmente iguais, apesar das diferenças de cor e de cultura, e
com iguais oportunidades.
Saúda todos as cristãos, mas
de modo especial aqueles que, devido à saída dos missionários, estão há meses
sem pastor e, apesar de todas as dificuldades, continuam fiéis à graça que
receberam e à caridade que nos une.
Saúda todas as Igrejas que
vivem em Cristo e, animadas pelo desejo de união, são levadas a procurar cada
vez mais os caminhos que a ela conduzem e também a dar testemunho, em toda a
parte, da sua fé perante o mundo.
Saúda os homens das diversas
religiões que procuram uma resposta para os problemas fundamentais da condição
humana.
Muitos e graves são os
problemas que preocupam o Presbitério da Beira e, por conseguinte, o seu
Conselho de Presbíteros. Não queremos fazer um comunicado, mas apenas partilhar
algumas das nossas reflexões. Poderemos assim contribuir para uma corresponsabilidade
mais eficaz e uma comunhão mais operante.
1. A Comunhão Diocesana: Lembrados da Palavra do Senhor - «Nisto conhecerão
que sois meus discípulos se vos amardes uns aos outros» (Jo 13,34; 15,17) - e conscientes de que a Igreja é sacramento de
comunhão (LG 1) e organismo do amor de Deus entre os homens, nós, os
Presbíteros, não podemos deixar de trabalhar para que a Diocese apareça cada
vez mais unida na fé, na esperança, na caridade e no compromisso com os homens
que vivem hoje e aqui, e esperam justamente da Igreja um sinal de justiça, de
liberdade e de paz (GS 93).
E, sendo a Diocese não apenas
um território ou um conjunto de missões e de actividades, mas uma porção do
Povo de Deus, reunida no Espírito Santo pelo Bispo com o seu Presbitério, por
meio do Evangelho e da Eucaristia (CD 11), é para nós, Presbíteros, um grave
dever testemunhar a
cooperação com o Bispo - princípio e fundamento visível da
unidade diocesana (LG 23) - proclamar em toda a parte e a todos os níveis a
Palavra que reúne, e celebrar a Eucaristia, vínculo da caridade.
Os religiosos, religiosas e
leigos - cuja diversidade de carismas é dada pelo mesmo e único Espírito para
edificação da Igreja (1Co 12) - têm igualmente o dever de cooperar com o Bispo e seu
Presbitério no crescimento e no testemunho da comunhão diocesana. «Que eles
sejam um, a fim de que o mundo veja e acredite» (Jo 17,20). Queremos vencer em
nós, nos Institutos e Movimentos de Apostolado as desconfianças que geram a
divisão e proclamar, diante do mundo que nos observa, a nossa comunhão na fé,
na obediência, no amor.
Não gostaríamos de ouvir,
neste momento, interpretações que desvirtuem os acontecimentos mais ligados à
diocese da Beira e lhes neguem qualquer significado evangélico. Devemos
confessar que muito nos custa quando tais interpretações provêm de pessoas
qualificadas ou com responsabilidades apostólicas. Entendemos que todo o
acontecimento que afecta uma Igreja local, afecta a Igreja universal e, como
tal, deve ser visto à luz do Espírito que tudo coordena para bem daqueles que
amam (Rm 8,28) e, por conseguinte, para crescimento da comunhão.
Não podemos aceitar acusações
caluniosas, boatos infundados, críticas maldosas contra os «Padres e
Religiosas da Beira», ou contra os missionários que nas diversas tarefas da evangelização
procuram ser fiéis ao Espírito que os manda proclamar a dignidade dos pobres e
testemunhar, com o risco da vida, a justiça e o amor.
Negaríamos a autenticidade da
nossa comunhão fraterna e da nossa vocação de arautos da verdade (Jo 18,37) se
calássemos a injusta expulsão de Mons. Duarte de Almeida e se
não exprimíssemos o nosso reconhecimento aos Padres Brancos pelo grandioso
trabalho de promoção e de evangelização desenvolvido nas missões desta Diocese
ao longo de generosos vinte e cinco anos.
Lamentamos que muitos dos
nossos católicos de tradição, alheios, infelizmente, à acção do Espírito, tenham
aproveitado dos acontecimentos da Diocese para fomentar a discórdia, denegrir
os missionários, particularmente os não-portugueses; para confundir internacionalmente
anúncio do Evangelho com atitudes políticas e, arbitrariamente, acusar os
missionários como «agentes de subversão», ofendendo assim a verdade, a justiça
e a honra devida aos homens e à Igreja e provocando no meio ambiente o escândalo
da confusão. Falamos em tudo isto não para censurar, mas para pedir que abandonemos
as obras da carne, ou seja, as discórdias, os partidos, os ciúmes, as invejas,
as iras, as contendas, as rixas, os homicídios e caminhemos segundo o Espírito
cujo fruto é a caridade, a alegria, a
paz e a comunhão (Gl 5,18).
Reunidos e vivificados pelo
mesmo e único Espírito, desejaríamos que o nosso testemunho de comunhão ultrapassasse
as fronteiras das nossas assembleias litúrgicas e ajudasse todos os homens que
vivem aqui a construir a comunidade social no amor e na paz. Na verdade a
Igreja é também sinal e instrumento da unidade entre os homens (LG 1), e o
Evangelho proclamado é sempre fermento de liberdade, de fraternidade e de paz
(AG 8). Trabalharemos, portanto, para que, através do Presbitério, das
Religiosas, dos Leigos, cresça e se manifeste a comunidade social, enriquecida
e embelezada pela diversidade de línguas, culturas e raças.
Lutaremos com a força da
justiça e do amor, para reunir num só e único Povo de Deus os povos de todas as
cores, respeitando as suas culturas e aspirações mais profundas; proclamando
sobre os telhados (Mt 10, 27) os seus direitos inalienáveis e a sua vocação à
liberdade própria dos homens-filhos-de-Deus.
Sentimos profundamente a
justaposição social das raças que vivem aqui c hoje, e tememos pelo futuro da
paz na Beira, se desde já, e com a sinceridade das obras, não abatermos os
muros do egoísmo, da injustiça, do medo, da força, e não eliminarmos
corajosamente todas as formas de exploração, de prepotência e toda a atitude
eivada de racismo. Não ignoramos, e muito nos preocupam, os conflitos latentes
ou abertos entre os homens que vivem nesta Diocese; não podemos alhear-nos das
profundas tensões psicológicas, sociais, culturais e raciais que ameaçam a
convivência entre as raças. É inútil tentar resolver as tensões, fruto dum
longo processo colonial e de estruturas injustas, com a força do medo ou das
armas. A guerra só pode gerar guerra. Jamais a comunhão das etnias, das raças,
das culturas brotará da violência armada.
Quereríamos dizer a todos os
homens, de todas as cores, que a
paz verdadeira é sinónimo de desenvolvimento integral, é
fruto do reconhecimento efectivo dos direitos do homem e dos povos e da
participação real de todos nos bens políticos, económicos, sociais e culturais;
é fruto de estruturas que servem o homem e o promovem integralmente, é fruto e
expressão social do amor fraterno.
Não pode haver convivência digna, se
não há consciência digna. Reconhecemos o esforço de alguns para edificarem uma
comunidade multirracial na convivência digna e na paz fraterna; reconhecemos
igualmente, a desonestidade de muitos profundamente viciados, fazendo de tudo e
de todos instrumentos ao serviço de interesses egoístas; negando aos mais
fracos o direito de serem homens; reduzindo muitas vezes os mais débeis
à condição de infra-estruturas; provocando inevitavelmente o crescimento das
tensões, provocando, a longo
ou a curto prazo, a violência e a guerra.
Não gostaríamos de ser mal
interpretados. Quereríamos lembrar ao Presbitério, aos Religiosos, às
Religiosas e aos Leigos o grave dever de promoverem a comunhão diocesana na
fé, na esperança, na caridade e, assim unidos, promoverem a comunidade social
na justiça e no amor fraterno. Grande pecado seria nesta hora o nosso egoísmo,
a nossa desunião e desinteresse. Edifiquemos a Igreja de tal modo que ela
apareça, cada vez mais, como «sinal indiscutível» de comunhão e de paz.
2. As Missões sem Missionários: O Conselho de Presbíteros
examinou a situação das Missões deixadas pelos Padres Brancos. Os milhares de
cristãos e as centenas de catecúmenos, na sua maioria adultos, esperam novos
padres, e as actividades existentes exigem uma continuação e uma profunda
dedicação missionária.
É de louvar o esforço das
Irmãs e dos Catequistas após a saída dos Padres, e a fidelidade dos cristãos; é
de anotar o conjunto de estruturas pensadas para serviço da promoção, da
evangelização e da comunhão fraterna. Contrariamente ao que foi dito e
divulgado, nada foi destruído, mas tudo permanece em ordem, à espera de novos
missionários. Lamentamos que muitos tivessem mentido e caluniado os
missionários que partiram e os missionários que ficaram, muito embora reconheçamos
que tenha havido um ou outro desvio. Mais lamentamos, porém, não se ter
compreendido que os ataques dirigidos aos missionários eram e são ataques à
Igreja missionária em Moçambique. Por isso nos parece que neste momento a Igreja
em Moçambique está em julgamento e deve seriamente reflectir nas razões que
levaram os Padres Brancos a deixar as missões da Beira e Tete, bem como nas
reacções que a saída deles provocou, tanto aqui, como na Metrópole e no
estrangeiro. Se a Igreja deve estar atenta aos sinais dos tempos para os interpretar
à luz do Evangelho (GS 4), não será ocasião de pedirmos luz ao Evangelho e
graça ao Espírito para interpretarmos rectamente os sinais que nos foram
dados?
Aceitamos de bom grado a
interpelação que nos é feita neste momento e a purificação que nos é exigida,
para que a Igreja realize efectivamente a sua missão de sacramento de salvação
e apareça liberta, o mais possível, das ambiguidades que a comprometem com os
poderes do mundo.
Há, na verdade, ambiguidades
que não aceitamos e que muito desejamos ver eliminadas para bem da liberdade
própria do Evangelho. A confusão que, por vezes, aparece entre Igreja e
Governo, causa interrogações que não se podem ignorar.
Desejaríamos ver a Igreja em
Moçambique mais independente e autónoma na sua própria esfera, cooperando
certamente com os poderes públicos nas coisas que se referem ao crescimento da
vocação pessoal e social do homem;
mas livre dos compromissos e das ambiguidades que a desfiguram e lhe tiram a
capacidade de anunciar eficazmente o Evangelho. Compreendemos as dificuldades
que a Igreja terá de vencer para não aparecer comprometida com um sistema político
ou com os grandes deste mundo; mas acreditamos no Espírito que vive na sua
Igreja, tornando-a livre para ser capaz de gerar e fazer crescer homens
livres.
Não estranhamos também o preço
da liberdade no Espírito. A perseguição faz parte da vida e do crescimento da
Igreja e sempre o mundo aborrecerá os que o não servem (Jo 15, 18-23). Preferimos, porém, uma Igreja
perseguida mas viva, a uma igreja com benefícios mas gravemente comprometida
com os poderes temporais.
Na carta aos seus presbíteros,
os Bispos de Moçambique afirmam: «A Igreja em Moçambique em caso algum aceitará
que a comprometam ou identifiquem com um sistema político, ou que dela queiram
servir-se para encobrir abusos de qualquer ordem» (n.o11). Muito
desejamos que esta afirmação se transforme em vida e em testemunho para bem da
liberdade efectiva da Igreja.
As missões, agora sem padres,
são, na sua mudez eloquente, um sinal e um apelo. Podemos dizer que poucos
entenderam o sinal. A experiência que estamos a viver é rica de sofrimento e
dá-nos, de algum modo, ocasião de medir a sensibilidade eclesial dos cristãos,
mesmo dos mais responsáveis. Estamos, de facto, muito longe uns dos outros e
profundamente viciados pelos critérios do mundo. É, infelizmente, sintomático
que a maioria tenha explorado o «caso dos Padres Brancos» e não se tenha antes
preocupado seriamente com os problemas graves duma Igreja local que, por uma
decisão do Conselho Geral dos Padres Brancos, perde trinta e dois dos seus
missionários mais válidos e com a humilhação de os ver sair precipitadamente
por determinação governamental. Estamos todavia convencidos de que este
sofrimento, provocado também por aqueles que nos deviam ajudar, muito
contribuirá para a purificação e autenticidade da Igreja em Moçambique. Continuamos
a esperar, certos de que o Espírito suscitará missionários aqui, na Metrópole
ou em qualquer outra parte do mundo e fará, sobretudo, crescer entre nós o amor
testemunho de Cristo ressuscitado.
3. O próximo Sínodo dos Bispos e o documento
«Justiça no Mundo»:
O Conselho tomou conhecimento do documento «A
Justiça no Mundo», ainda em fase de estudo e destinado a ser discutido no
próximo Sínodo dos Bispos. O problema da
justiça no mundo - diz o documento - é cada vez mais grave e interpela
seriamente a sociedade do nosso tempo.
Hoje, mais do que nunca,
adquiriu-se a consciência do valor da pessoa humana, como sujeito de direitos e
de deveres invioláveis e, ao mesmo tempo, um sentido mais vivo da igualdade nas
coisas fundamentais e uma sensibilidade mais aguda das injustiças, entre os
indivíduos, as sociedades e os povos. A Igreja, «sinal e instrumento de
presença de Deus entre os homens», não pode ignorar, na sua missão profética, o
dever de proclamar a dignidade da pessoa humana, nem calar as situações que,
de algum modo, a possam ofender. Perante as injustiças que afectam a dignidade
do homem, a solidariedade universal, o amor fraterno, o destino universal dos
bens, a posse equitativa das terras; perante a violação do direito de todo o homem
à vida e condições dignas de vida; do direito à participação activa na vida
social, económica, cultural, política e religiosa; do direito à liberdade de
procurar a verdade e de seguir a voz da consciência e, por conseguinte, de
manifestar a sua opinião, mesmo nos assuntos políticos, a Igreja não pode ficar
indiferente. Compete-lhe salvar a pessoa humana na sua totalidade, promover a
justiça, o amor, a liberdade no coração de todo o homem e nas relações
sociais, e impregnar toda a ordem temporal com o espírito do Evangelho (LG 36).
Não admira, portanto, que os
missionários enviados por Cristo para libertar o homem de todas as opressões e
anunciar-lhe a vida própria dos Filhos de Deus, proclamem a justiça e denunciem
as injustiças, quer elas se encontrem no coração do homem, quer nas
mentalidades ou nas estruturas sociais, económicas e administrativas. Mas
anunciar a Boa Nova aos pobres, proclamar a libertação aos cativos, mandar em
liberdade os oprimidos, sarar os corações contritos e humilhados» (Lc 4, 19),
proclamar a justiça e denunciar a injustiça é correr um risco e provocar em
muitos um escândalo.
A palavra de Deus interpela as
consciências, incomoda os poderes e, não raras vezes, provoca perseguições ou
mesmo a morte dos profetas. «Hão-de entregar-vos aos tribunais e açoitar-vos
nas sinagogas; sereis levados à presença dos governadores e dos reis por minha
causa» (Mt 10, 17). Não são, por isso, de estranhar as dificuldades, as
desconfianças, as acusações, nem são totalmente novas muitas das objecções que,
hoje aqui, se põem ao ministério profético dos missionários. Do Senhor Jesus,
os fariseus diziam que perturbava a ordem, sublevava o povo e provocava a ira
dos romanos (cf Lc 23, 3; Jo. 11, 48).
Tendo, sem dúvida, em conta o
condicionalismo e a sensibilidade da hora que vivemos em Moçambique, a Igreja
da Beira, quer ser para todos os homens e, particularmente para os pobres, um
sinal da justiça e do amor; uma voz que denuncie todas as formas de opressão,
venham elas das mentalidades ou das estruturas; das conveniências ou dos
interesses; da adulteração e esquecimento das leis ou do abuso do poder. A
Igreja, «Sacramento da Salvação», tem de ser na Beira uma força que liberte os
homens do vício do lucro e da violência; dos preconceitos raciais e de todas as
formas de descriminação; do abuso do poder social e económico e do escândalo
das carências de muitos e da abundância de poucos; da instalação provocante dos
grupos fechados por motivo de cor, de cultura ou de condição económica. A
Igreja, fonte de vida e de comunhão de homens adultos, quer estar na Beira
atenta ao desenvolvimento, particularmente do homem africano, lembrando que
todo o verdadeiro desenvolvimento passa necessariamente pelos direitos fundamentais
da pessoa humana e dos povos, e jamais se poderá reduzir ao simples progresso
técnico e económico ou aos programas que não tenham o homem como primeiro e
principal autor do próprio crescimento.
Nós, Presbíteros, fiéis à
missão da Igreja e à vocação do homem e dos povos, e conscientes do nosso dever
profético, queremos servir, sem qualquer descriminação, ensinando a todo o
homem a sua dignidade inalienável e os seus direitos invioláveis; iluminando
com o Evangelho os gravíssimos problemas da propriedade, do aumento e justa
distribuição dos bens materiais, da paz e da guerra e da convivência fraterna
de todos os povos (CD 15); formando os leigos cristãos no dever de colaborar
eficazmente na construção duma sociedade onde não haja lugar para marginais nem
para exploração impune dos mais fracos pelos mais fortes; onde as estruturas sejam
constantemente purificadas do peso da opressão, e todos sintam que são homens,
fundamentalmente iguais e com iguais oportunidades de «ter mais para ser mais».
Queremos contribuir para a
edificação duma sociedade nova na qual os homens renascidos «na água e no
Espírito» sintam a alegria de ser homens-irmãos-uns-dos-outros, membros da
mesma família; reconheçam sem esforço a dignidade e a vocação da pessoa humana;
unam as mãos numa participação cada vez maior dos bens culturais, políticos,
económicos, e, sem justaposições sociais, sempre fictícias e perigosas,
edifiquem a paz na
justiça e no amor.
E, se em Moçambique há novas
situações e novas exigências de justiça, é urgente que apareçam novos homens,
tanto para anunciar a justiça, como para a receber. Homens que não tenham medo
da verdade, não fujam às responsabilidades, não iludam os problemas, não
confundam, por ignorância, por conveniência ou por maldade, a proclamação do
Evangelho e das suas exigências sociais com atitudes políticas; não calem as
vozes dos que pedem mais justiça, mais verdade e mais amor; não fechem os
ouvidos ao desafio que nos é lançado e que nos obriga a responder a tempo e
com eficácia, se queremos deveras a paz.
CONCLUSÃO: Esperemos que estas nossas reflexões ajudem o
Presbitério, os Religiosos, as Religiosas e os Leigos da Diocese a
viver e a testemunhar o mandamento do amor com todas as suas exigências de
verdade, de justiça c de comunhão fraterna.
Tomemos consciência da hora
que o Senhor nos oferece para edificarmos a Igreja, sinal eficaz da comunhão
entre os homens; para nos libertarmos das ambiguidades que atraiçoam o
Evangelho, para ajudarmos a construir uma comunidade social mais humana e mais
fraterna.
Estejamos atentos ao Espírito,
disponíveis para toda a obra, e profundamente comprometidos com o povo que nos
foi confiado. Conservemos em tudo o vínculo da paz.
Beira, 15 de Agosto de 1971
+ Manuel Vieira Pinto
José Augusto Alves de Sousa
Joaquim Leão
Jesús Grisaleña
António Gonçalves
Vasco Fernandes
Mário do Amaral
Joaquim Telles Sampaio
Manuel Carreira das Neves
Geraldo Appelmann
Afonso Simões
Fernando Chaves
Jesus Camba Gomez
Joaquim Leitão Alves Ferreira
Gilberto Lage
José Augusto Faria
António Pedro Joseph Martens
João Maria Van Bosch.
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