Profere a homilia com a vivacidade que lhe era peculiar |
Conheci-o antes de, em 1988, eu ter assumido os cuidados
pastorais das Paróquias do Marrere e Murrupula (a esta já eu dera assistência
de 1982 a 1986 em plena guerra civil, contando, ali, com outro grande Pastor,
Papá Alexandre Rancho).
O “senhor” Afonso era conhecido entre os médicos que
prestavam serviço no Hospital do Marrere. Tinha fama! O servente, senhor
Afonso, era a pessoa mais confiada para segurar as delicadas chaves do depósito
dos medicamentos!
Um jovem médico português, Rui Teixeira, cardiologista, meu
amigo ao conhecê-lo como cooperante zeloso e dedicado, em cuja casa eu parava
com alguma frequência nos anos 1982-1985, falara-me dele. Falávamos justamente
a propósito de ética profissional (ou por causa da falta dela) nos hospitais.
Era uma pessoa com credibilidade social incontestada. Era, como bem sabemos
todos, um conselheiro social. Consequentemente, sentia eu, na minha alma, um
exemplo do que deva ser um cristão em testemunho na sua vida corrente.
Conhecê-lo, pessoal e fisicamente, em 1988, foi, para mim,
uma enorme alegria e satisfação. Na análise de todas as situações, das sociais às
estritamente pastorais, sabia que tinha ali um sábio! E foi-o, realmente, em
todas as situações, por delicadas e melindrosas que elas fossem. A primeira foi
logo nos primeiros meses da minha chegada ao Marrere, quando tivemos de
corrigir algumas situações de comportamentos de alguns animadores.
Homem corajoso, nunca se deixou amedrontar pelos costumados
medos macuas...sobretudo com ameaças de feitiços ou por invejas fossem de quem
fossem. Sem hesitar ou tentar inventar qualquer desculpa para se livrar,
aceitou, em condições delicadas, assumir, interinamente, o serviço de Animador Paroquial.
Foi, por isso, o meu grande mestre e o meu alicerce seguro na busca dos
caminhos de uma pastoral atenta ao pobre e ao humilde, e bem alicerçada na
cultura materna. Ao mesmo tempo, nas circunstâncias delicadas em que assumira a
interinidade do serviço de Animador Paroquial, foi um servidor que, na sua
coragem, nos ajudou a corrigir tentações já então emergentes, dos que já se
insinuavam como pretendendo instalar-se como donos vitalícios das comunidades
ou dos cargos paroquiais como se fossem “régulos” ou seus sobrinhos. Poucos
homens, cristãos ou não, teriam sido capazes de tanta coragem.
Na mesma linha se situa outra situação. Era ainda quase
madrugada. Talvez 4 da manhã. Passou na minha casa para avisar: vou à minha
terra, lá onde está o meu pai. Ouvi dizer que há lá uma situação: uma criança
morreu na barragem e as pessoas estão a acusar um jovem, vindo da cidade, de
lhe ter feito feitiço. Eu vou lá para defender esse jovem. Pode acontecer que
se virem contra mim; se ouvir que morri, já sabe o que se passou. E partiu!
Mas sobre este homem, que na sua simplicidade e
espontaneidade pastoral eu sempre senti ter muito a ver com o nosso Arcebispo
Manuel e agora com o Papa Francisco, talvez, nestes dias venha ainda a contar
mais coisas edificantes.
Hoje, fico por aqui, celebrando, em dolorosa páscoa, a
plenitude da vida em Jesus que, sem dúvida, já o acolheu na sua glória.
Sob o impacto da notícia dolorosa, no contexto da crise mundial, juntamos a esta páscoa, este
13 de Maio, em que as celebrações do Santuário de Fátima ficarão, sem dúvida, marcadas
na alma de todos nós, agradecendo a magnífica homilia do seu Bispo, o Cardeal
António Marto, que tanta proximidade revela também com o nosso querido Papa
Francisco . Glória a Deus e à nossa Santíssima Mãe, Maria! (Zé Luzia)
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