ANIMADORES
DE COMUNIDADES
Homilia pronununciada no ENVIO de 40 Animadores na Festa do Pentecostes de 1982. Trata-se de um texto bem revelador da alma pastoral do Bispo Manuel num tempo de injúrias, desprezo e desconfianças.
A Palavra de Paulo aos anciãos de Éfeso: Actos dos Apóstolos, 20,
17-38.
A Palavra do Bispo aos Animadores:
É o Espírito e o Bispo da Diocese quem vos
põe à frente das Comunidades, quem vos envia a animardes as Paróquias ou as
Zonas Pastorais.
Junto das Comunidades sois a boca, os braços, o coração do Bispo,
sois o prolongamento do Bispo da Diocese.
Quem vos acolhe, acolhe o Bispo; quem vos despreza, despreza o
Bispo; quem vos injuria, injuria o Bispo; quem vos prende, prende o Bispo da
Diocese.
E sois postos pelo Espírito e pelo Bispo para realizardes tarefas
concretas:
Primeira tarefa: reunir a comunidade na Fé, no Amor, na Esperança,
na Comunhão fraterna e no Serviço multiforme a qualquer homem.
Segunda tarefa: celebrar com as comunidades a Palavra, os
Sacramentos, a Amizade, o testemunho e o serviço fraterno sem fronteiras.
Terceira tarefa: defender e promover a dignidade inalienável de
cada homem, 'de cada mulher, de cada criança, de cada família, de cada cultura.
É possível que alguns, aqui e hoje, neguem à Igreja o direito de cuidar do
homem na sua totalidade. Dizem que a Igreja deve limitar-se às coisas do espírito. Mas esquecem que o espírito sem corpo e sem história
não é o homem. E a Igreja é enviada ao homem vivo, situado, concreto.
Sois
enviados aos homens vossos irmãos. Aos homens daqui e de hoje. Aos homens que
sofrem a humilhação da fome, da nudez, da injustiça e da falta de amor. Ao Povo
que perdeu a Esperança. Ao Povo que luta por uma vida mais digna e ao Povo que
chora e desistiu de lutar.
Estais postos pelo Espírito
e pelo Bispo para amardes até ao fim, dando, também vós, a vida e o tempo e
tornando, assim, cada homem, cada mulher e cada família, mais vivos, mais
dignos e mais livres.
Quarta tarefa: trabalhar
constantemente pelo aparecimento e formação de ministérios e de vocações
religiosas.
Quinta tarefa: defender e
fazer crescer a comunhão eclesial a nível das comunidades, da Diocese e da
Igreja Universal.
2 -Estais postos pelo
Espírito e pelo Bispo e apoiados por toda a Diocese.
Nenhum de vós está sozinho. Nenhum lutará sozinho, sofrerá ou
se alegrará sozinho. Nenhum caminhará sozinho. A Diocese é uma família. E numa
família todos são responsáveis por todos.
Para cumprir estas tarefas precisais da Força que vence a
fraqueza própria do homem e dê ao coração a perseverança, a coragem, a
alegria e sobretudo o entusiasmo do apóstolo. Sabeis muito bem onde está essa Força. Lembremo-lo em poucas
palavras.
\
Em primeiro lugar, a
Força do Espírito. Ele vive e actua em cada um dos enviados. Ele prometeu e não
falta. O Espírito de Deus é a força do apóstolo.
Em segundo lugar, a amizade do Bispo. Ele ama
cada um dos missionários. Como vida da sua vida. Ele ama cada um dos Animadores
como filhos mais diletos e mais próximos.
Em terceiro lugar, a oração de toda a Igreja Diocesana. Cada
missionário é um dom que a Igreja pede e agradece. Cada animador é um dom que a Igreja pede
e agradece. A oração da Igreja por cada um de vós é contínua e sincera.
3 - Eis que «vos envio como cordeiros para o meio de lobos» (Mt
10, 16).
Ireis encontrar lobos. Não os temais, não os rejeiteis.
Amai-os com sinceridade, corrigi-os na justiça. Suportai-os na paciência e na
esperança.
Em todos os momentos, tendo presente que Deus é maior que o
homem; que as ameaças do homem, por causa de Cristo, são vento que passa; que
as injúrias e o desprezo, por causa da justiça, são bem-aventurança; que o tempo do zelo esquerdista, anti-religioso e oportunista não
dura sempre. É mais breve que a vida do homem.
Tendo igualmente presente que muitos daqueles que nos interrogam
nasceram da Família de Deus. Corromperam-se e tentam agora
corromper os que permanecem na fé. Amai-os como irmãos, se bem que demonstrem,
com tantas palavras, que são falsos irmãos.
Atendei também aos cristãos desviados ou fugidos do caminho,
por medo, por fraqueza ou por força da injusta e anacrónica discriminação. Procurai-os,
tendo diante dos olhos o exemplo de Jesus, o bom Pastor.
Confiai no coração de Deus e no coração do homem. Confiai nos
tempos e nos caminhos que surgem hoje e aqui.
Eis que vos envio para testemunhardes o amor de Deus por todos os
homens: cristãos ou não-cristãos, ateus ou crentes, justos ou pecadores,
dirigentes ou dirigidos. Sereis no meio do Povo o fermento que leveda, o sal
que dá sabor, a luz que ilumina (Mt 5, 13).
Sois no meio do Povo os primeiros a servir e os primeiros a
amar. E cumprireis este dever, não por orgulho ou por vaidade, mas por fidelidade
ao Espírito de Deus. Estareis disponíveis para assumir e promover o combate
contra todo o tipo de carências, contra qualquer situação que humilhe e
esmague o nosso Povo. Estareis atentos às tarefas que melhor possam servir a
alegria, o bem-estar, a paz, a unidade, a liberdade e solidariedade dos homens
e das mulheres que integram o nosso País em crescimento.
4 -Eis que vos envio para
serdes animadores das Paróquias e das Comunidades. Animadores da Fé, da
Esperança e do Amor Fraterno.
Animadores da celebração
comunitária da Fé e do Amor. Animadores da celebração dos Sacramentos e do
testemunho do Evangelho. Animadores dos ministérios que o Espirito suscita em
cada comunidade cristã. Animadores da comunhão eclesial e da partilha dos bens
da Palavra, da Reconciliação, da Eucaristia, do apoio desinteressado e
fraterno e do pão de cada dia.
Animadores da Igreja que
dia a dia terá de ser mais adulta, mais autónoma, mais local e africana.
Animadores da
Reconciliação de Jesus Cristo em cada homem e na história que todos nós estamos
construindo.
5 - Eis que vos envio à luz do dia. Não sois c1andestinos, nem
ireis evangelizar na clandestinidade. Sois homens livres e filhos dum Povo
livre. Sois cidadãos empenhados também na construção duma sociedade onde a
inteira dignidade do homem tenha a primazia. Gozais, por isso, da liberdade própria do
homem vivo, concreto, inteiro, corresponsável e sujeito da própria história, no
tempo e para além do tempo. Gozais, como todo o cristão dum país livre, do
direito de praticar ou não praticar uma religião; do direito de amar e de
servir os vossos irmãos, na fé, dando-lhes o que sois e o que tendes.
E vós sois cristãos pela
graça de Jesus Cristo. E sois cristãos que os vossos irmãos elegeram e que o Bispo
da Diocese constitui, pela força do Espírito, testemunhas do Evangelho e
animadores das Comunidades.
Por isso vos envio como
testemunhas e animadores e não como simples cristãos. E vos envio à luz do dia. Ninguém mais vos pergunte os vossos nomes, ninguém
mais lance suspeitas sobre as vossas tarefas pastorais e missionárias•
Hoje proclamamos aqui os
vossos nomes; hoje dizemos aos cristãos e não-cristãos, aos ateus e aos
crentes, aos que vos amam e aos que vos desprezam quais as vossas tarefas, qual
é a vossa missão, qual o
vosso nome.Espero, por isso, que terminem, de uma vez para sempre,
certas perguntas inúteis, extemporâneas e descabidas.
6 - Eis que vos envio à Igreja que vive onde vivem os cristãos
reunidos em nome de Jesus. É grande a Diocese. São muitas as Paróquias. São
mais de oitocentas as comunidades.
Confiai no Espírito que vos chamou e conforta. Confiai no coração
de Deus vivo e fonte de vida. Confiai também no coração do homem.
Todo o homem traz dentro de si o desejo infinito de ver e possuir
o Amor e a Vida. Jesus Cristo é a Luz que ilumina todo o homem que vem a este
mundo (Jo 1,9). Confiai no homem e confiai nos tempos que surgem hoje e aqui.
Sabemos, na verdade, que a vida venceu a morte e que a presença de Cristo na história dos
homens não é para destruir ou humilhar, mas para que todos tenham vida e vida
em abundância (Jo 10, 10).
Ide em paz. Eu vos envio em nome do Pai, do Filho e do
Espírito Santo. Amen.
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