BISPO DE NAMPULA VIEIRA PINTO
"FAMIGERADO TRAIDOR À PÁTRIA INDESEJÁVEL EM
TERRITÓRIO PORTUGUÊS VIVA PORTUGAL UNO E INDIVISÍVEL" |
Vieira Pinto chegara a Moçambique em Setembro de 1967 onde o comando do General Kaulza de Arriaga se mostraria impotente diante da impetuosidade da luta da Frelimo. A famosa operação Nó Górdio (1970) fracassaria redondamente.
Na Catedral de Nampula, pela voz firme e profética do jovem Bispo recém-nomeado, ecoava a exortação de Paulo VI em Fátima: Homens, sede Homens!
Desde o primeiro momento, Vieira Pinto, muito espontaneamente, acontecia-lhe como agora ao Papa Francisco, e aí estava ele com gestos e palavras que deixavam os colonos desconcertados.
Desde o primeiro momento, Vieira Pinto, muito espontaneamente, acontecia-lhe como agora ao Papa Francisco, e aí estava ele com gestos e palavras que deixavam os colonos desconcertados.
Momentos depois de aterrar, ultrapassa as filas VIPs e vai lá atrás, às filas do povo africano que o espreitava e, tomando uma criança dos braços de uma mãe macua,
eleva-a em direcção ao sol. Murmurações surdas de colonos, e gritos de exultante alegria, de negros, misturam-se. Durante toda a sua vida Vieira Pinto narraria esta cena fundante da sua pastoral em Nampula, e que repetiria vezes sem conta, com natural agrado do Povo.
Depois, não perderia tempo a tratar de mudar mentalidades ao ritmo do Vaticano II. Em 1971 publicou Estamos numa Hora de Viragem, documento
verdadeiramente programático de corte com os equívocos e as
ambiguidades da acção missionária ao abrigo do Acordo Missionário em que
a "portugalização" mais prejudicava do que favorecia uma autêntica
evangelização.
Mas a Homilia do Dia Mundial da Paz de 1974 - Repensar a Guerra - foi a gota de água que fez transbordar a (im)paciência e a raiva do regime colonial, sobretudo da PIDE.
No mês de Fevereiro, os Padres e as Irmãs Combonianos publicam, na linha da atitude dos Padres Brancos em 1971, Um Imperativo de Consciência, versando sobre os direitos do Povo Moçambicano. O Bispo assina também. Rapidamente chega ao conhecimento das autoridades e as manobras de ataque não se fazem esperar.
Manifestações
arruaceiras orquestradas pela PIDE manipulando as forças mais
primárias, ignorantes e colonialistas de Nampula, levam, primeiro, ao
ataque à Igreja Paroquial de S.Pedro, onde partiram todos os vidros, à
Catedral e ao Centro Catequético do Anchilo, bem como a pedradas e
insultos de fronte da residência episcopal, e, finalmente, à prisão de
10 missionários combonianos juntamente com o Bispo, a pretexto, dizia o
Governador Gama Amaral, de os defender da fúria popular. Todos seriam
expulsos não só de Nampula mas também de Moçambique.
Com o 25 de Abril não se fez esperar o desagravo político. O General Spínola convidou-o para membro do Conselho de Estado, o que foi, naturalmente, declinado.
Vieira Pinto, por decisão pessoal, regressaria a Nampula em Janeiro de 1975, em pleno processo de transição para a Independência em cuja cerimónia oficial, no estádio da Machava, foi convidado expresso do Presidente Samora.
Finalmente
eleito presidente da CEM ainda pela maioria dos seus pares portugueses
(apenas tinham sido nomeados os dois primeiros bispos negros
moçambicanos, Alexandre Maria dos Santos (Lourenço Marques/Maputo) e
Januário Nhamgumbe (Porto Amélia/Pemba), não chegaria a terminar o seu
mandato. Outros valores nacionalistas se levantavam entretanto. Mas
Vieira Pinto permaneceu em serviço lúcido e dedicado ao seu povo, agora
sob os ventos da revolução marxista-leninista de que a Frelimo se
reclamava contundentemente.
São
deste tempo 3 documentos importantíssimos onde a coragem e a serenidade
da sua visão profética mais uma vez se fazem alimento precioso para
quem não queria nem virar anti-comunista primário, nem colaborador
acrítico da proclamada obra de reconstrução nacional revolucionária:
- Interpelações da revolução
- Um Tempo Novo
- Um Tempo Novo
- Ateísmo e Religião - Fé e Revolução
Já nos tempos da maldita guerra civil, pronunciou uma importante homilia no Dia Mundial da Paz de 1984 que teve por título:
A CORAGEM DA PAZ
No
mês de Março seguinte seria celebrado o Acordo de Incomati entre o
regime do Apartheid e o governo de Samora Machel. Mas o martírio da
guerra perduraria ainda muito para lá da morte de Samora (19 de Outubro
de 1986), até ao Acordo Geral de Paz entre a RENAMO e o Governo de
Moçambique (4.10.1992), que, por não ter sido devidamente implementado o
seu protocolo IV, está a provocar sérias perturbações militares com
novas e inúteis perdas de vidas nestes dias.
O
Arcebispo Manuel Vieira Pinto permaneceria em Moçambique até ao Mês de
Março de 2001, altura em que tomou posse o seu sucessor, o primeiro
arcebispo moçambicano de Nampula, Tomé Makhweliha.
Vive
os seus últimos dias na Casa Sacerdotal da Diocese do Porto de cuja
Fraternidade foi um dos grandes impulsionadores enquanto jovem padre.
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