Ernesto Maguengue - Novo Bispo em Nampula - Surpresa
Desde há anos que a saúde do Arcebispo Tomé Makhweliha, de Nampula, lhe
não tem permitido estar presente na ampla Diocese como as necessidades e
os deveres pastorais exigiam. Entre a sua resignação por motivos de saúde e a
possibilidade de um bispo auxiliar, todos os figurinos iam passando entre os
clérigos de dentro e de fora da diocese.
Finalmente, em Agosto passado, fomos surpreendidos com a
nmeação do Bispo Ernesto Maguengue simplesmente como auxiliar. Para os leitores
menos familiarizados com esas questões, informo que nestas circunstâncias, o
que muitas vezes acontece é ser nomeado um bispo coadjutor com direito a
sucessão. É uma figura do direito que dá maior conforto operativo e pastoral ao bispo
nomeado que, praticamente, sabe que o seu trabalho, embora em articulação com o
ainda bispo titular, já se projecta para o futuro em que ele será o bispo
residencial
.
Aconteceu assim, por exemplo, com José Policarpo, em 1998,
quando no leito de doença irreversível, o cardeal Ribeiro, então Patriarca de
Lisboa, aguardava a sua Páscoa defintiva para Deus. José Policarpo foi nomeado
Arcebispo-Coadjutor.
No caso de Nampula, o Vaticano mostrou-se mais cauteloso e optou apenas pela nomeação de
bispo auxiliar. A circunstância da ausência do titular, Arcebispo Tomé Makhweliha,
confere-lhe, na prática, obrigações pastorais de tempo inteiro. É o que todos
esperamos dele.
Entre a apreensão e a surpresa
A nomeação do Bispo Ernesto deixou muitas pessoas apreensivas. Na verdade, ele viu-se obrigado a resignar da sua primeira
diocese, a de Pemba, em circunstâncias algo delicadas. Muitas foram as razões
que circularam nos bastidores, dentre as quais, a incapacidade de se entender com
os seus padres diocesanos. Nunca isto ficou completamente esclarecido, mas os
ditos foram variados.
Sabendo, por interpostas pessoas, da capacidade intelectual
e da qualidade espiritual do ainda Padre Ernesto, era para mim evidente que haveria que
encontrar um modo de voltar a inseri-lo na vida da Igreja de Moçambique. Mas
não me passava pela cabeça que ele pudesse, de alguma maneira, “regressar” a um
espaço canónico – a província eclesiástica de Nampula na qual se integra a
diocese de Pemba – donde saíra nas perturbadoras circunstâncias de que todos
estamos ainda lembrados. Esta a razão da perplexidade e da discordância desta
nomeação.
Mas Deus escreve direito por linhas tortas e até sem linhas
nenhumas. Dou graças a Deus pela coragem do Bispo Ernesto ter chegado a aceitar
tão desafiante proposta. Pelo pouco que já me foi dado constatar, não hesito em vislumbrar nele o futuro arcebispo
de Nampula.
Os que vivemos a sua nomeação com apreensão, dizemos, agora, que a
experiência de Pemba foi, para ele, uma grande escola. Do bispo distante e de
difícil acesso (segundo os rumores de então), parece que nem réstea ficou. Em Nampula
ele está dando provas de uma grande e humilde proximidade. Criou, para si, o
estribilho de comunicação evangélica, “trabalhador da última hora” que deseja aprender com quem já cá
está...
Nos encontros tem-se revelado um exímio pedagogo e gestor
que não deixa para amanhã aquilo que deve ser resolvido – e feito – hoje. E
isto numa mestria de paciência e respeito para com os ritmos que encontrou na
diocese, nem sempre tão diligentes e céleres quanto seria de desejar.
Apraz-me recordar aqui o encontro que presenciei com os animadores das comunidades da Paróquia de Angoche, Aiube, Namitória e Namaponda, aquando da sua visita em 16 de Novembro. Foi delicioso vê-lo “conversar”, em espontâneo jeito coloquial, com o grupo reunido na Igreja Paroquial depois da grande celebração num recinto de desportos durante toda a manhã.
Na linguagem e nos gestos dramatizados, ele passou uma mensagem bem assumida pelos circunstantes de que, a nossa vida e o exercício das nossas responsabilidades, devem assentar na Oração, no Trabalho, e no Conhecimento (ideia).
Nas suas homilias, tem-se-me revelado não só um excelente
orador, mas também um excelente comunicador popular. Não resvalando para a linguagem
eclesiástica tantas vezes rotineira e feita de lugares-comuns, mostra-se um bom
companheiro do Papa Francisco: homilia contextualizada no povo simples que o
escuta, e interveniente até ao coração das pessoas.
Creio que demora mais do
que o Papa, mas também o Papa não pode ter razão em tudo... Certamente que na
sua celebração quotidiana na Casa Santa Marta, onde reside no Vaticano, ele é
obrigado a ser mais conciso e breve, porque não dispõe nem do tempo nem do povo africanos!
Na celebração litúrgica tenho-o visto, com agrado, mais
preocupado com a qualidade do que com o formalismo que parece querer invadir
tantos sectores da Igreja católica apostados no regresso aos tempos
pre-conciliares.
As “buxas” oportunas no desenrolar do rito eucarístico,
à revelia e em reforço do ritual, sublinhando a nobreza dos momentos, revelam quanta liberdade de espírito e de
criatividade lhe vai na alma.
Parabéns, Irmão Bispo Ernesto! Que Deus te conserve fiel na
criatividade que vens revelando!
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